1- Fisiopatologia Cardíaca
O coração normal, garante fluxo adequado aos tecidos periféricos, tendo uma reserva funcional de 3 a 5 vezes a sua capacidade. Na doença essa reserva acaba. Os mecanismos compensatórios, operam em corações normais e doentes tentando atingir vários requisitos a curto prazo, sendo os de longo prazo obtidos de um débito cardíaco. Esses mecanismos incluem, dilatação, hipertrofia, aumento da freqüência, aumento da resistência, aumento do volume sangüíneo e redistribuição do fluxo deste. Esses mecanismos permitem a manutenção por algum tempo.
Dilatação Cardíaca: pode ocorrer como lesão terminal em muitas cardiopatias, como resposta compensatória ao débito cardíaco. A dilatação ocorre com o aumento das células cardíacas (fenômeno Frank-Starling), fazendo elevação do volume sistólico, porém esse aumento reduz a força contrátil.
Hipertrofia do Miocárdio: resposta cardíaca compensatória de longa duração, para manter o débito cardíaco, frente a situação com aumento na sobrecarga de pressão ou de volume (ver distúrbio do crescimento).
2- Síndromes da insuficiência cardíaca ou descompensação
Sincope cardíaca, é uma expressão aguda caracterizada por colapso, perda de consciência, alterações extremas na freqüência cardíaca e pressão sanguínea, com ou sem lesões orgânicas demonstráveis, desenvolve-se por necrose do miocárdica massiva, fibrilação ventricular, bloqueio cardíaco, arritmias e inibições do reflexo cardíaco (pode ser associado a bloqueios craniais ou intestinais).
A Insuficiência Cardíaca Congestiva, em geral, desenvolve-se lentamente, devido a perda gradual da eficiência cardíaca, junto a sobrecarga de pressão ou de volume à lesão miocárdica. É iniciada por cardiopatias diversas, ou aumento de trabalho associado a doenças pulmonares, renais ou vasculares. Causa redução do fluxo aos tecidos periféricos (insuficiência projetada), e acúmulo de sangue antes dos pulmões (insuficiência retrógrada).
A redução sangüínea renal, cria hipóxia e aumento da liberação de renina do aparelho justaglomerular, estimulando liberação de aldosterona para o córtex renal, causando retenção de sódio e água, fazendo aumento plasmático acúmulo de liquido de edema. A hipóxia faz o estímulo da eritropoese pela medula, causando policitemia, deixando o sangue viscoso, e a hipervolemia resultante da retenção de água induzida pela aldosterona, adiciona uma carga ao coração insuficiente. Inicia-se então um ciclo vicioso de descompensação que leva o indivíduo a morte por insuficiência cardíaca se não tratado.
A Congestão pulmonar ou edema é causada pela insuficiência do coração esquerdo. Pode ser causada por perda da contratilidade, associada a miocardite, necrose, ou cardiomiopatia, disfunção válvula aórtica e mitral, e doenças congênitas do coração.
A insuficiência crônica do coração direito resulta em congestão hepática (fígado noz-moscada) e retenção de sódio e de água mais acentuada que na insuficiência do lado esquerdo.
Edemas, são conspícuo e ocorre principalmente no tecido subcutâneo ventral em eqüinos e ruminantes, na forma de ascite em cães e de hidrotórax em gatos, causando nestes: insuficiência cardíaca que incluem, hipertensão pulmonar, miocardiopatia e nas válvulas tricúspide e pulmonar.
3- Diagnósticos
Exames físicos, radiografias, eletrocardiologia, ecocardiografia, angiocradiografia, cateterização cardíaca. Lesões podem ser detectadas pelo aumento da atividade sérica de enzimas e isoenzimas, que são liberadas pelas células musculares cardíacas.
4- Anomalias Congênitas:
Os eventos complexos do desenvolvimento embriológico do coração e dos grandes vasos permitem oportunidades substancias para o aparecimento de anomalias congênitas. A importância funcional dessas anomalias varia grandemente.
Animais com defeitos acentuados não sobreviverão no útero, e os com lesões leves podem nascer e não apresentar sinais clínicos.
As etiologias são variadas, sendo a maioria com freqüência baixa de mal formação espontânea. Nos cães principalmente os defeitos são hereditários. Os defeitos podem ser induzidos por, substâncias químicas e drogas, agentes físicos, distúrbios nutricionais e intoxicações.
Persistência do ducto arterioso: ocorre freqüentemente em cães poodles, collies, pomerânios. O ducto arterioso é um canal vascular entre as artérias aorta e pulmonar que permite o sangue desviar-se dos pulmões durante ávida fetal. Normalmente, após o nascimento, esse canal é convertido num ligamento sólido, assim, o sangue será desviado do ventrículo esquerdo para o ventrículo direito, resultando em hipertensão pulmonar.
Defeito Septo Arterial: é devido a falha do fechamento do forame oval.
Defeito do Septo Ventricular: é uma falha do desenvolvimento completo do septo ventricular permitindo a comunicação das duas cavidades ventriculares.
Tetralogia de Fallot: anomalia cardíaca complicada com quatro lesões, sendo as três primárias: defeito do septo ventricular localizado na parte superior do septo, estenose pulmonar, dextroposição da aorta. A quarta lesão que se desenvolve secundariamente, é hipertrofia do miocárdio do ventrículo direito.
5- Anomalias Devido a Falhas no Desenvolvimento Valvular
Estenose Pulmonar: Freqüente em cães, são formações de faixas de tecido fibroso e/ou muscular a válvula (estenose subvalvular), ou sua malformação (estenose valvular). Caracterizada por pequeno orifício central numa cúpula de tecido valvular espessado. Devido a alta pressão , há hipertrofia concêntrica acentuada do v. direito.
Estenose subaórtica: Freqüente em suínos e cães produzida por zona espessada tecido endocárdico fibroso que rodeia o trajeto de efluxo do ventrículo esquerdo. Apresenta células mesenquimais proliferadas, substância fundamental mucinosa e metaplasia cartilaginosa.
Hematomas valvulares: são os hematocistos. Acomete válvulas atrioventriculares de ruminantes jovens. Lesões de regressão espontânea após meses de idade, e não causam anormalidade funcional. São cistos de vários tamanhos salientes preenchidos de sangue, presentes nas bordas das válvulas atrioventriculares.
6- Anomalias Devido ao Mau Posicionamento dos Grandes Vasos
Persistência do arco Aórtico Direito: Ocorre quando o quarto aórtico direito, se desenvolve e se eleva do lado direito da linha média, fazendo com que o ligamento arterioso, forme um anel sobre o esôfago e a traquéia, resultando em obstrução esofágica e dilatação proximal deste, enquanto o animal se alimenta.
Ectopia Cordis: desenvolvimento do coração num local anormal, fora da cavidade torácica.
Fibroelastose Endocárdica: caracteriza-se por um endocárdio proeminente, brancacento e espesso, devido a proliferação de tecido fibroelástico, a lesão é mais acentuada no endocárdio do ventrículo esquerdo.
7- Patologias do Pericárdio:
Acúmulo de líquidos não-inflamatórios no saco pericárdico:
Hidropericárdio: distensão do saco pericárdico por acúmulo de líquido aquoso, associado a lesão vascular pode coagular quando exposto no ar (ex.: microangiopatia dietética dos suínos). Em casos de aparecimento súbito, a superfície pericárdica é lisa e brilhante, já em casos crônicos o epicárdio é opaco devido ao espessamento discreto, podendo aparecer grânulos devido a proliferação vilosa. O hidropericárdio ocorre em doenças edematosas generalizadas. Também ocorre na maioria das vezes junto com hidrotórax e ascite. Pode causar insuficiência cardíaca congestiva causada por doenças primárias do miocárdio, das válvulas e neoplasias. É comum ser associado à miocardite com dilatação e síndrome de ascite, podendo também acompanhar hipertensão pulmonar, insuficiência renal e hipoproteinemia associada a varias doenças sistêmicas com lesão vascular. O hidropericardio de tamponamento rápido leva o tamponamento cardíaco ou compressão, que interfere com o preenchimento do coração, e com retorno venoso ao coração. Em desenvolvimento lento, a distensão permite grande acumulo líquido sem tamponante. Pode ser reversível, se a causa é removida, porém geralmente é associado a cardiopatias progressivas que levam a morte.
Efusões hemorrágicas no saco pericárdio de etiologia desconhecida são observadas em cães, efusões semelhantes a estas podem ocorrer em cães com hemangiossarcomas e tumores de base do coração, neoplasias comuns nessa espécie.
Hemopericárdio: sangue no saco pericárdico. A morte é súbita por tamponamento cardíaco, pode resultar de ruptura espontânea do átrio em cães, ruptura da aorta pericárdica em eqüinos, ou de uma complicação de injeção intracardíaca.
7.1- Alterações Metabólicas:
Atrofia serosa da gordura: ocorre em depósitos de gordura no epicárdio. Ocorre pela mobilização da gordura em conseqüência de anorexia, inanição ou caquexia.
Mineralização Epicárdica: (calcinose cardíaca) lesão notável causadas por cepas co-sangüíneas de camundongos, é hereditário, levando a formações de placas mineralizadas brancas, firmes, especialmente sobre o epicárdio do ventrículo direito. Trata-se de uma calcificação distrófica, porém não causa disfunção cardíaca.
7.2- Inflamação:
Pericardite Fibrinosa: É a mais comum inflamação causada em animais, é causada por infecção hematógena, é causada por doenças específicas, que incluem em bovinos, pasteurelose, carbúnculo sintomático, septicemias por coliformes e encefalomielite esporádica dos bovinos; em suínos, doenças de Glasser, infecções por streptococcus, pasteurelose, pneumonia enzoótica por micoplasma e salmonelose; em eqüinos, infecção por streptococcus; em aves, psitacose. Macroscopicamente as superfícies pericárdicas são cobertas por depósitos de fibrina amarelada, causando aderência entre os folhetos parietal e visceral. Ao abrir o saco pericárdico na necrópsia, a aderência é rompida. No microscópio observa-se camada eosinofílica de fibrina, contendo neutrófilos depositado sobre o pericárdio congesto, geralmente acorrem mortes iniciais devido a infecção por bactérias altamente virulentas com septicemia. Em casos de sobrevida prolongada , ocorre formação de aderências fibrosas entre os folhetos e conseqüentemente organização do exsudato fibrinoso.
Pericardite supurativa: ocorre principalmente em bovinos com reticulopericardite traumática. Corpos estranhos ou pedaços de arames que se acumulam no retículo, seguem perfurando até o pericárdio, causando a infecção. Bovinos afetados pode sobreviver por meses, até que ocorra a morte por insuficiência cardíaca congestiva e septicemia. A superfície pericárdica fica bastante espessada por tecido conjuntivo fibroso, branco, rugoso, com aparência felpudo, o saco pericárdica fica com acúmulo de exsudato purulento , branco-acinzentado, viscoso e com mau cheiro.
Pericardite Constritiva: é uma lesão inflamatória crônica , acompanhada com extensa proliferação fibrosa formando aderência por todo o saco pericárdico. Pode resultar de obliteração do saco pericárdico e constrição do miocárdio por tecido fibroso, interferindo no preenchimento cardíaco, acentuando a insuficiência cardíaca congestiva.